domingo, 27 de setembro de 2015

Gostando mais ainda da cultura brasileira

Não sei se alguém já escreveu sobre isso, mas acho a nossa festa de Cosme e Damião muitíssimo mais interessante e importante do que o Halloween dos ‘isteites’. Comparo ambas porque têm em comum a distribuição de doces entre as crianças.
Lá, as crianças saem em busca de doces usando fantasias, despindo-se de quem realmente são. É bem bonitinho vê-las assim, como também no Carnaval. Mas aqui, a cada dia 27 de setembro, as vemos como de fato são: em hordas, gritando e correndo pelas ruas de shorts e chinelos com suas sacolas vazias e, depois, cheias de doces. Mais verdadeiro, espontâneo e bonito.
Lá, a abordagem é feita num tom de brincadeira, mas que carrega o paradoxo da lúdica ameaça: dá-me a gostosura ou terás minha travessura. Aqui, não há condições, apenas as mãozinhas abertas esperando que a cota de cada doador não acabe logo na sua vez.
Lá, as crianças seguem de porta em porta. Aqui, são os adultos que vão até os pequenos desconhecidos das ruas reconhecendo sua vez de serem presenteados.
Lá, a festa é das bruxas só no nome. Na estética é de razoável variedade de monstros e outros personagens oriundos da imaginação humana. Aqui, a tradição homenageia duas figuras que se tornaram históricas por fazerem o Bem. Ao que tudo indica, Cosme e Damião não foram santificados à toa. Assim como os Ibejís da umbanda também estão a serviço de elevada missão ao emprestarem sua força para a proteção das crianças com amor e alegria.
Não quero sugerir superioridade cultural porque isso não existe.  Mas como vivemos em tempos de viralatice crônica, reconforta perceber que temos algo que se situa alguns níveis acima em termos de humanidade.

2 comentários:

  1. Adorei! Muito boa comparação!
    Não comemoro bem uma festa nem outra com meus filhos. Para tenho gostosas memórias de infância de pegar doces de Cosme e Damião. É uma implicância com a festa dos "isteites". Hahaha

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    Respostas
    1. Oi, Márcia! A experiência de correr atrás de doces é fundamental na infância. Tem a frustração, a conquista, a interação com crianças desconhecidas etc.
      Somos duas implicantes com a festa dos isteites...rss.
      Abraço!

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