Até que tive as minhas próprias crianças. Talvez em algum
momento eu tenha reproduzido essa fala tão comum. É fácil sentir ‘pena’ de perder os bebês. Tão
lindos, fofos, com aquelas roupinhas... Até que cresceram um pouco e começaram
a andar e falar. Tão engraçadinhos! Depois
vieram as fases encantadoras da alfabetização, das perguntas incessantes, da proximidade
com os amigos que logo viram sobrinhos emprestados. Até os conflitos entre eles eram interessantes
e, quando exigiam intervenção adulta, permitiam mútuos aprendizados. Aliás, falando
por mim e por muitos pais e mães com os quais convivo, portanto ouço e observo,
durante todo o período escolar somos mobilizados a participar de uma rede de
aprendizados muito prazerosa que inclui o amadurecimento emocional dos filhotes.
Quando chega a adolescência finalmente cai o véu e somos
compelidos a enxergar a realidade de que os bebês se foram para sempre. E que o que vem a seguir é algo por demais
desafiador: lidar diariamente com o turbilhão emocional decorrente da brusca
transição pela qual todos nós passamos e que exige dos pais, acima de tudo, MUITA
paciência. Mas acompanhar a saída
definitiva da infância e o ingresso na vida adulta é também pura diversão!! Porque nós mesmos ainda temos fresca a memória
do que foi essa etapa das nossas vidas, diferentemente da já longínqua
infância. Então é fácil reconhecer neles o que fomos e pelo que passamos há não
muito tempo. Eu mesma tenho bastante clareza
de que alguns processos subjetivos que me construíram começaram justamente
quando eu era adolescente e fico emocionada quando os vejo viverem situações
semelhantes.
Um dia, quando eu era criança, minha mãe me perguntou se eu
seria sua amiga quando crescesse. Eu, lá pelos meus 4 anos de idade, respondi
que não, claro! Como poderia ser amiga se eu já era filha? Naquele momento
parecia que uma coisa era uma coisa e outra coisa só podia ser outra coisa. Foi
por volta dos 40 fios brancos que eu me recordei desse diálogo. Algum fato qualquer,
agora sem importância, acionou sinapses que me devolveram a cena e eu pude
concluir que, pelo menos no meu caso, o desejo dela foi realizado e nos
tornamos grandes amigas. Duas mulheres
adultas, uma cuidando da outra para sempre.
Se a amizade entre pais e filhos é ou não algo inerente a
essa relação, ou se tem seu alicerce em algum período específico, acredito que
os pilares são construídos durante a adolescência. Uma fase belíssima para todos
que dela participam e que às vezes é injustiçada pelo senso comum. Eu sempre reajo quando pessoas vêm me dizer
que agora que tenho adolescentes em casa é que os meus problemas vão começar. Digo
que pelo contrário, tá cada dia mais legal ser mãe deles.
No balanço geral, apesar de sentir saudades de bebês que
pediam colo, nunca senti pena de vê-los crescerem, justamente porque as novas
aventuras não deixavam espaço para isso. Tudo é novidade, logo divertido e
desafiador. Sem falar que o afago, o abraço, o beijo e a procura diante de uma
dificuldade não desaparecem, apenas mudam de jeito. E se a saudade apertar basta
olhar atentamente e veremos direitinho os nossos pequenos guardados naqueles
corpos que vão ficando a cada dia maiores e diferentes. O olhar, por exemplo, não
muda com o tempo.
Noutro dia, de bobeira, perguntei pra minha mãe se eu ainda
era o bebê dela. A resposta dela foi a
única possível: “Claro que ainda é meu bebê!”
Como escreveu aqui no blog minha amiga Márcia,
em qualquer fase da vida, “amor, sempre”.