Gostando mais ainda
da cultura brasileira
Não sei se alguém já escreveu sobre isso, mas acho a nossa
festa de Cosme e Damião muitíssimo mais interessante e importante do que o
Halloween dos ‘isteites’. Comparo ambas porque têm em comum a distribuição de
doces entre as crianças.
Lá, as crianças saem em busca de doces usando fantasias, despindo-se
de quem realmente são. É bem bonitinho vê-las assim, como também no Carnaval.
Mas aqui, a cada dia 27 de setembro, as vemos como de fato são: em hordas, gritando
e correndo pelas ruas de shorts e chinelos com suas sacolas vazias e, depois, cheias
de doces. Mais verdadeiro, espontâneo e bonito.
Lá, a abordagem é feita num tom de brincadeira, mas que
carrega o paradoxo da lúdica ameaça: dá-me a gostosura ou terás minha
travessura. Aqui, não há condições, apenas as mãozinhas abertas esperando que a
cota de cada doador não acabe logo na sua vez.
Lá, as crianças seguem de
porta em porta. Aqui, são os adultos que vão até os pequenos desconhecidos das
ruas reconhecendo sua vez de serem presenteados.
Lá, a festa é das bruxas só
no nome. Na estética é de razoável variedade de monstros e outros personagens
oriundos da imaginação humana. Aqui, a tradição homenageia duas figuras que se
tornaram históricas por fazerem o Bem. Ao que tudo indica, Cosme e Damião não
foram santificados à toa. Assim como os Ibejís da umbanda também estão a
serviço de elevada missão ao emprestarem sua força para a proteção das crianças
com amor e alegria.
Não quero sugerir
superioridade cultural porque isso não existe. Mas como vivemos em tempos de viralatice crônica,
reconforta perceber que temos algo que se situa alguns níveis acima em termos
de humanidade.