sábado, 26 de dezembro de 2015

O que, de fato, move o (seu) mundo?

A pergunta do título é propositadamente ampla, com muitos sentidos e respostas possíveis.   Antes de ler as sugestões abaixo, tente respondê-la mentalmente.

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O que move o mundo é o dinheiro?
O amor move o mundo?
Ou seria  a  gravidade do sistema solar?

Destaco um dos motores do mundo, que só pude enxergar com clareza depois do 40º fio de cabelo branco: a boa vontade.  Que é mais eficaz quando acompanhada de uma ferramenta muito eficiente: o sorriso. Basta prestar atenção para perceber o quanto um sorriso nosso é capaz de transformar o humor do outro. E o quanto de conforto nos traz um sincero sorriso quando o recebemos. 

Sobre a boa vontade, quando concretizada numa ação ou até mesmo numa omissão, pensemos nela nas duas vias que ora interessam: quando saímos de uma situação difícil por causa do auxílio de alguém que, em alguma medida, sacrificou seu tempo, dinheiro ou descanso por nós.  E, por outro lado, quando somos nós a socorrer outra pessoa numa dificuldade qualquer.  

Ainda na adolescência,  ouvi de uma tia que não costumo considerar uma pessoa sábia: “Com boa vontade tudo se resolve”.  Essa frase nunca me saiu da cabeça até porque foi dita durante um entrevero e coube perfeitamente na respectiva situação.  Eu estava de má vontade com um sujeito, nem um pouco a fim de qualquer esforço, muito menos sacrifício para facilitar a vida dele.  Por fim, acabei cedendo e a coisa toda se resolveu com um mínimo de mim, titia saiu com essa e eu até que me senti gratificada por ter colaborado.  

Tempos depois percebi que se eu estivesse disposta a ajudar desde o início do processo, metade do tempo seria poupado e  haveria menos angústia.  Além disso, os envolvidos teriam se sentido mais seguros e acolhidos. Em suma, mais felizes. Minha gratificação teria chegado mais cedo e não viria acompanhada de culpa pela má vontade inicial. Eu não teria ouvido a lição de moral da tia, justamente aquela que julgo não ser muito esperta - mas até que essa foi a parte menos pior considerando que serviu de inspiração para repensar “a vida, o universo e tudo mais”.  E se eu tivesse incluído um sorriso ao acontecido, não teria hoje a impressão de que minha má vontade inicial estava visível, estampada numa carranca facial; uma cara tão feia e que deve ter me enrugado tanto que acho que até agora não consegui alisar.

Mas foi a partir desse episódio que comecei a prestar atenção em situações parecidas e a reunir pedacinhos que já estavam espalhados pela minha vida. Hoje, quase 40 fios brancos depois, esses pedacinhos viraram lembranças de situações várias que poderiam ter sido diferentes se eu tivesse tido boa vontade com os que me cercavam.  Outros pedacinhos são falas que mesmo a essa altura da vida eu ainda estou escutando.  Tudo isso junto me ajudando na árdua e muito  importante tarefa de analisar atitudes passadas e presentes  na tentativa de separar as oriundas do mais sincero desejo de ajudar, daquelas que de boa vontade somente têm a aparência.  Porque, sim, a maturidade também ensina que há pessoas que procuram demonstrar boa vontade com os outros, não por empatia, mas porque sabem que um sorriso pode lhes abrir certas portas. 

É também típico da maturidade adquirir a consciência de poder escolher um caminho, seja o que exige esforço, talvez até algum sacrifício, tendo em vista a gratificação de fazer o bem. Ou o caminho da falsa boa vontade, interessada em algo diferente da simples oportunidade de fazer a diferença na vida de alguém.  Ademais, também é na maturidade que aceitamos que temos que  selecionar as pessoas com quem vamos dividir o percurso da vida.

Voltando ao tema inicial, o que move o mundo?  Se há uma resposta universal e absoluta temos o infinito para tentar descobrir. Por enquanto, fico com o individual e o relativo: para mim a boa vontade com o próximo e o sorriso são poderosas forças de atração entre seres humanos e, portanto, capazes de mover o (meu) mundo. O que me leva à conclusão de que os melhores seres humanos com os quais conviver são os que já alcançaram o degrau evolutivo que lhes torne espontânea a conduta por pura empatia.  E que, portanto, podem nos atrair para o seu nível superior já que estamos em constante aprendizado.

Essa é uma reflexão que antecipa as minhas perspectivas - nem promessas, nem metas - para o ano novo.