sábado, 1 de agosto de 2015

OS TAIS 40 FIOS BRANCOS


Quando eu completei 40 anos de idade, acordei do mesmo jeito que fui dormir na véspera. Não havia qualquer sinal de que houvesse ultrapassado algum portal mágico para a dimensão das quarentonas, apesar das expectativas que me vinham sendo alimentadas desde o aniversário de 35. Mas o que eu esperava, afinal?
É que a gente passa a década dos 30 anos se preparando para uma grande virada, como se fazer 40 anos equivalesse a alcançar o marco mais significativo da vida. Como quando ouvi pelo menos dois amigos prometerem que fariam uma grande festa para comemorar a tão importante nova-idade dos 40. Também conheço gente que não queria nem falar sobre o assunto, muito menos comemorar. São muitos os exemplos de quem viveu essa expectativa com euforia ou ojeriza, passando por emoções intermediárias. A chegada dos 40 anos só não causa indiferença.
Lembro-me de minhas tias dizendo que quando a gente entra no “enta” – a famosa série dos quarenta, cinquenta etc. - dele não sai mais, tipo prisão perpétua.  E a minha mãe sempre dizia que “depois dos 35 é que aparece tudo”, ou seja, as doenças começariam a surgir e tomar o lugar da saúde quase plena e do gosto pelos excessos que caracterizam a juventude. Em suma, o recado era claro: aproveite a vida antes dos 40 porque depois...
A pressão não é pouca, portanto. Principalmente para nós, mulheres, criaturas cujas vidas seguem pautadas por tantas metas às vezes difíceis de serem conciliadas, sendo a mais perversa de todas a busca pela juventude eterna. Muitas de nós caímos nessa armadilha (im)posta diariamente por quem pretende ganhar com a ansiedade pela permanência da juventude. Quem são esses? Basicamente os Lordes Siths que lucram com produtos e serviços especificamente direcionados às mulheres, mas nem sempre para seu conforto. Para que a estratégia dê resultado ($$$) vão incutindo em nós um tipo de resistência nada saudável ao amadurecimento, podendo virar fobia.  As ferramentas não estão ocultas e a propaganda é a mais poderosa de todas, pois nos faz acreditar que não podemos ser quem somos e ainda nos leva ao consumismo que colabora para a degradação da nossa casa planetária.
Sabemos de tudo isso, intuitiva ou racionalmente. Difícil é organizar ideias e sentimentos e, depois, colocar as defesas em prática. Como resistir?
Partindo da premissa da vulnerabilidade individual diante da propaganda, torna-se compreensível que quem segue à risca a agenda do esticamento da juventude sinta um certo medinho na porta dos 40 anos.  E o medo aprisiona.
Eu acredito que seja possível escapar disso trilhando o caminho ao lado.
Vim aqui porque quero compartilhar ideias e fôlego. E porque acredito que seja possível viver uma boa vida sem ser o tempo todo apanhada pelas armadilhas da propaganda e da indústria; que seja possível estar bem, simplesmente, com saúde e alegria, mesmo convivendo com dúvidas.  E para confirmar que a coisa toda não acontece só comigo.  
Estamos no mesmo universo observável, logo, aproveito para registrar aqui que sei que não  existe uma fórmula de felicidade e reconheço que nadar contra a corrente do consumismo e da juventude a qualquer custo pode ser, sim, bem cansativo.   
Aproveito pra deixar claro que não cheguei aos 40 com rosto de 25 e corpinho de 22. Por causa do gravíssimo pecado de dormir pouco que ainda cometo, meu espelho me diz que tenho mais idade do que a minha certidão de nascimento atesta. Ainda assim curto horrores dizer que já tenho 41 e meio e até deixei isso público no Facebook. Dependendo do contexto, do meu humor e do receptor da mensagem, eu digo que tenho muito mais, por pura diversão, só pra ver a reação das pessoas. Ou por implicância mesmo, quando digo em voz alta que tenho mais de 50 perto daquelas tias que têm pavor de que saibam suas idades.  Por outro lado, sempre que devo dizer quantos anos tenho com máxima precisão a resposta é esta: 41 anos e dois filhos lindos (minha idade favorita). 
Fato é que optei por lidar com a coisa toda com o máximo de graça em vez de drama.
Com mais de 40 fios brancos na cabeça entendi que seria bacana dizer para outras garotas e para alguns caras o quanto é legal não ter que mentir sobre idade e que podemos nos divertir muito durante os “enta”. Principalmente, se tivermos uns aos outros para conversarmos sobre a infinitude de temas que têm a ver com essa fase tão legal da vida.  Assim, pelo menos, a gente se diverte. 

7 comentários:

  1. Gostei do que você escreveu e se não estiver comprometida gostaria de te convidar para um jantar a dois.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desculpe-me, mas estou comprometidíssima!
      Continue acompanhando o blog, abraço!

      Excluir
  2. Muito bom!!
    Vamos compartilhar "ideias e folego" por aqui tb"!
    Beijos

    ResponderExcluir
  3. É possível estar bem , simplesmente, com saúde e alegria, mesmo convivendo com dúvidas.
    Projeto lúcido,projeto que demanda um árduo trabalho, mas é esse o caminho.
    Projeto para a vida toda .

    ResponderExcluir